segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Memorial do Amor

Na rotina citadina, por entre o trânsito matinal na pacata praça da cidade onde vivo, um insuspeito movimento pendular prendeu-me o olhar, vi um pobre homem descrevendo tragectórias errantes, mas de uma geometria intrigante, aquele pobre homem movia-se em contratempo... uma perturbação tão forte, que era realçada ainda mais pelo olhar de estranheza e descriminação de quem passava...
Ligeiramente postrado para a frente, com uma mão no bolso do casaco, e a outra servindo de suporte ao cigarro freneticamente consumido por aquele comportamento desviante..
"Foi um desgosto de amor..." ouvi uma voz exclamando.
A partir daquele instante vi-o com outro olhar, um olhar de dislumbre.... aquele homem de semblante carregado que se arrastava agarrado á memória que restava da sua mulher, tinha um dia sentido o que foi amar em plenitude....
No dia seguinte á mesma hora, no mesmo local, os mesmos gestos, a mesma expressão, o mesmo semblante, as mesmas trajectórias, e no dia seguinte também, e no outro, e no outro...
Dia a dia aquele homem foi contruíndo o seu próprio memorial do amor, não é um memorial de pedra, mas de algo que viverá para sempre com ele, para que enquanto ele exista, nos lembremos todos do perigo que corremos ao perder de vista o nosso amor, porque embora amar seja bom se ouver no fundo de um de nós alguma solidão, essa solidão só existe para dar mais chama a um reencontro, e que será sempre essa a ordem natural das coisas....

(Esta história é real, e baseada numa prespicaz observação da realidade que me rodeia)

Ornatos Violeta

CHAGA

Foi como entrar
Foi como arder
Para ti nem foi viver
Foi mudar o mundo
Sem pensar em mim
Mas o tempo até passou
E és o que ele me ensinou
Uma chaga pra lembrar que há um fim

Diz sem querer poupar meu corpo
Eu já não sei quem te abraçou
Diz que eu não senti teu corpo sobre o meu
Quando eu cair
Eu espero ao menos que olhes para trás
Diz que não te afastas de algo que é também teu
Não vai haver um novo amor
Tão capaz e tão maior
Para mim será melhor assim
Vê como eu quero
E vou tentar
Sem matar o nosso amor
Não achar que o mundo é feito para nós

Foi como entrar
Foi como arder
Para ti nem foi viver
Foi mudar o mundo
Sem pensar em mim
Mas o tempo até passou
E és o que ele me ensinou
Uma chaga pra lembrar que há um fim


Letra: Manel Cruz/Musica: Peixe

terça-feira, 1 de setembro de 2009