quarta-feira, 29 de julho de 2009

Avó


Hoje que toda a tristeza do mundo se concentra em mim, quero ficar infinitamente triste, deste-me o ser, deste-me o meu mundo, sou barro doçemente esculpido por ti,
sinto-me perdido, e cada vez mais a vida passa por mim a uma velocidade vertiginosa, sem eu poder fazer nada, come se uma parte de mim estivesse convencida de que tudo que fiz basta...
Quero que os rios sequem e o mar se escoe, que todas as florestas ardam, que todas as pontes que nos unem caiam, quero que o mundo perca a côr, quero fechar os olhos e ficar a olhar o vazio para sempre, até que as lágrimas me escorram.
Todos os dias na vivacidade da tua rotina, como se nada se tivesse passado...
Sinto que perdi o mundo, desejo ter-te de volta o mais próximo daquilo que éras...
Estou a perder os meus alicerces, não vás ainda porque tenho medo amor que as minhas bases não estejam ainda suficientemente fortes para passar sem ti, dá-me um sinal, mostra-me onde irei buscar as forças para aguentar a tua perda, ainda não te perdi, não desisti de ti....
AMO-TE AMO-TE AMO-TE AMO-TE, bem sabes a dificuldade que sempre tive em dizer esta palavra, sabes que é tão valiosa... quando estava alí sozinho contigo e as lágrimas me escorreram ao ver-te tão diferente, os beijos que te dei ainda te levaram a reagir
Acorda por favor, diz o meu nome, dá-me mais algum tempo, pede mais algum tempo ao teu Deus, porque caso contrário não sei se me aguento... nenhum outro neto aprendeu tanto contigo e com o avô, quanto eu, adoro-vos, amar-vos-ei eternamente....
Agora vou vaguear, deambular, quedar-me num banco de jardim pela noite dentro, tendo-te constantemente no pensamento, tenho muito para chorar...
Avó amo-te, perdoa-me...

domingo, 5 de julho de 2009

Esquissos do passado...


Antes... muito antes, de perceberes que existias, pensaste que todos eram iguais a ti, do mesmo género, do mesmo sexo, não havia diferenças, nem indiferenças, juntos formava-mos uma única impressão digital, qual código genético qual X&Y.
As moléculas que conhecía-mos, eram as quandidades enormes de Legos com que contruía-mos majistosos castelos de nada, e ao fim do dia quando chegava-mos ao fundo do beco, os nossos dedos desenterlaçavam-se, num até já que demorava uma eternidade...
Todos os dias o mundo inteiro para descobrir, "sei de um quintal onde há uma cerejeira carregada", num ápice pulámos cercas, saltámos muros como se não houvesse amanhã, nem mesmo a imponente muralha da China nos poderia deter...
Sentados e encostados no sopé daquela montanha a que chamavam árvore, acabámos por adormecer no conforto da sua sombra...
Acordá-mos com a brisa fria do fim da tarde, fomos caminhando por entre os campos de aveia que se estendiam num verde imenso que se erguia ao nível dos nossos olhos...

Quando saímos daquele mar verde, deparámo-nos com um velho casébre abandonado, onde trepadeiras milenares se alimentavam em formas esculpidas pelo martírio da solidão,
um cenário horrendo que me impediu de avançar, fiquei estático, tinha acabado de conhecer o medo em mim, senti o teu peito avolumar-se num impulso de coragem, quiseste entrar, correste tão rápido que fiquei sem reacçao, apenas vi o teu vestido branco ser engolido pela escuridão que estava para lá daquela porta... a mesma escuridao que eu temia, era cada vaz mais fim de tarde e o sol começava a fraquejar.
O silêncio de não te ter a meu lado, e o cantar agitado dos pássaros, fez-me avançar como se te fosse salvar, chamei não respondeste, ao passar o limiar da porta vi-te postrada... de medo, a flôr colorida que trazias na mão perdeu-se no chão do casébre por entre as folhas secas e estaladiças trazidas pelo vento.
Absorvi parte do vazio que te prenchia, naquele dia as emoções foram diferentes, naquele dia as emoções deixaram de ser adolescentes, pois tínha-mos encontrado a raíz do medo...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Um Lugar que me diz muito...



TIAGO BETTENCOURT
o lugar

Já é noite e o frio
Está em tudo que se vê
Lá fora ninguém sabe
Que por dentro há vazio
Porque em todos há um espaço
Que por medo não cedeu
Onde a ilusão se esquece
Do que o medo não previu

Já é noite e o chão
É mais terra p'ra nascer
A água vai escorrendo
Entre as mãos a percorrer
Todo o espaço entre a sombra
Entre o espaço que restou
Para refazer a vida
No que o medo não matou

Mas onde tudo morre tudo pode renascer

Em ti vejo o tempo que passou
Vejo o sangue que correu
Vejo a força que moveu
Quando tudo parou em ti
A tempestade que não há em ti
Arrastando para o teu lugar
E é em ti que vou ficar

Já é dia e a sombra
Está em tudo o que se ve
Lá fora ninguém sabe
O que a luz pode fazer
Porque a noite foi tão fria
Que não soube acordar
A noite foi tão dura
E difícil de sarar

Mas onde tudo morre tudo pode renascer

Em ti vejo o tempo que passou
Vejo o sangue que correu
Vejo a força que moveu
Quando tudo parou em ti
A tempestade que não há em ti
Arrastando para o teu lugar
E é em ti que vou ficar

Mas eu descobri a casa onde posso adormecer
Eu já desvendei o mundo e o tempo de perder
Aqui tudo é mais forte e há mais cor no céu maior
Aqui tudo é tão novo tudo pode ser amor

Mas onde tudo morre tudo volta a nascer

Em ti vejo o tempo que passou
Vejo o sangue que correu
Vejo a força que moveu
Quando tudo parou em ti
A tempestade que não há em ti
Arrastando para o teu lugar
E é em ti que vou ficar

Já é dia e a luz
Está em tudo o que se vê
Cá dentro não se ouve
O que lá fora faz chover
Na cidade que há em ti
Encontrei o meu lugar
É em ti que vou ficar.